Bota pra Foder no Convés



O cais cheirava a sal, rum barato e pólvora. A lua desenhava um caminho prateado sobre as ondas e a Sirene rangia discretamente na maré, como se quisesse tossir segredos. Sarah Fortune — Miss Fortune — desceu a prancha com a confiança de quem já fez o inferno e voltou pra contar; as pistolas no coldre brilhavam sob a luz da lamparina, testemunhas frias de todo o sangue que já tingira suas mãos.

A tripulação fez um silêncio respeitoso quando a capitã caminhou pelo convés: as bocas cerradas, os olhares cobertos pela sombra dos chapéus. Eles sabiam que ali não havia piedade, só prazer e justiça do jeito dela — e que a recompensa pelo erro era sempre uma bala ou um tapa na cara. Mas entre os homens havia um que tinha passado de companheiro de armas para algo que ardia mais fundo. Rook — ossudo, com os olhos do mar e mãos que conheciam cada cordame — ficou parado, mastigando um pedaço de casca de charuto, língua de testa, córnea brilhando.

Desde o ataque no Cais Branco, desde o momento em que ela fez a água engolir Zyglos e a carabina-hextec desaparecer como promessa, Sarah sentiu uma fome diferente. Não era só a sede de ver capitães caindo; era a sede de corpo, calor e de demonstrar domínio de outro tipo. Rook tinha salvado seu flanco numa troca de tiros, puxando-a por trás quando uma lâmina quase alcançou sua costela; agora, enquanto o convés ainda vibrava com o eco dos tiros, ela o queria — urgente, selvagem, prático.

Ela se aproximou devagar, os saltos marcando compassos no madeirame. Rook engoliu seco quando a baioneta do vestido dela fez luz no ar: renda rasgada na perna, couro rente, o decote ousado como uma bandeira de desafio. O cheiro — rum, pólvora e pele — bateu nos dois ao mesmo tempo.

— Rook — sussurrou ela, parado em frente ao canhão, as mãos nos quadris, uma promessa nas costas — venha cá.

Ele não hesitou. A tripulação murmurou, virou as costas por respeito (ou por medo de ser convocada) e o som do mar tomou conta, deixando aquele instante só deles. Sarah encostou a mão no peito dele, sentindo o coração martelar como um tambor naval. A ponta dos dedos desceu até a baliza do cinto, deslizou e pousou quase provocante sobre o coldre.

— Tu tem pólvora pra aguentar a chuva da noite, capitã? — Rook rosnou, voz grossa de quem já viu tempestade.

— Eu tenho munição pra seis — ela respondeu, mordendo o lábio. — E um canhão pronto pra descarregar.

Foi tudo o que precisou. Rook a puxou contra o corpo, o couro do casaco raspando como vela em brisa forte. O beijo foi brutal: língua que mordia, dentes que marcavam, saliva e riso. Sarah correspondeu com igual ferocidade, encaixando as mãos na nuca dele, como se quisesse prender o homem à madeira do convés.

— Lá embaixo tem um porão quente — murmurou ela contra a boca dele. — Vamos enterrar esse tesouro onde ninguém vai achar.

O porão virou câmara de guerra e altar de loucura. A escada rangeu sob os dois, os degraus marcando um compasso de urgência. A luz trêmula de uma lamparina revelou corpos suados, breu de madeira e sacos de moedas que farfalhavam como folhas de ouro. Sarah empurrou Rook contra uma pilha de barris, rasgou seu colete com as unhas e abriu o fecho do próprio vestido com dedos ágeis e impacientes.

— Senta — ordenou, voz baixa, segura. — Quero sentir teu peso como âncora.

Rook não esperou. Tirou as botas, as calças, mostrou o tamanho do mapa que andava guardando entre as pernas. Sarah sorriu, revelando dentes afiados, e desceu até ele de joelhos naquele chão fedido de rum. A mão dela pegou firme o pau dele, quente e já duro, como uma carabina pronta para disparar. A língua passeou pela cabeça, depois as bochechas, depois a base, como uma marinheira que limpa arma antes de trocar tiros.

— Vai com calma, capitã — ele gemeu — quer que eu te leve pela proa inteira.

— Não vem com esse papo de marinheiro recatado — ela respondeu, puxando-o para mais para cima, pressa no movimento. — Hoje tu é meu tesouro e eu roubo tudo de ti.

Ela lhe deu uma chupada longa, devoradora; o barulho era molhado, a saliva brilhando como óleo de vela. Rook gemeu alto, as mãos correndo pelas costas dela, as unhas marcando a pele. Sarah subiu como quem monta um canhão no batente: devagar até o encaixe perfeito, e depois começou a descer, ritmo cadenciado, mordendo o ombro dele.

— Tu é firme — murmurou ela, arqueando as costas para sentir cada encaixe. — Como madeira velha. Dona de cada estalo. Quero ouvir teu casco ranger.

Ele apertou os quadris dela, guiando, batendo ciclos longos e grossos, cada empurrão um estalo de martelo no navio. A respiração de ambos ficou curta; o suor grudento colava peles, misturava o sal do mar com o sal do desejo.

Sarah arqueava, puxava de novo, e então mudou: virou o quadril, pediu mais fundo, pediu mais voraz. Rook respondeu com estocadas que faziam o corpo dela vibrar como corda de arpão. O som que saía dos dois era animal: gemidos, ofegos, piadas sussurradas — e sempre, como sempre, o deboche ardido dela.

— Tu lembra do Zyglos? — ela sussurrou, rosto colado ao pescoço dele, a respiração quente. — Afoguei tanto dele que até o peixe pediu licença.

Rook riu, a boca encostada na orelha dela:
— Bom… eu sempre prefiro enterrar tesouros profundos. Mas hoje, se for pra enterrar, que seja com barulho. — e mordeu a pele do ombro dela, deixando marca.

Ela revidou com risadas de vidro, puxando-o mais forte. A maneira dela falar, sempre com piadas de pólvora e trocadilhos — “mete a mão no meu porão”, “saca o cano e me mostre o brilho da tua bala” — deixou cada estocada mais suja, cada gemido um aviso ao resto do convés: “essa é minha tomada, essa é minha pilhagem”.

Rook a virou, segurou-a pela cintura e a impeliu contra um barril, onde o som ressoou como tambor. Ela encaixou as pernas nele, prendendo-o por baixo, e arqueou enquanto ele a fodia com força. A posição permitiu que ambos olhassem um ao outro nos olhos, calor e chama, como se vissem o reflexo da vela na boca do outro.

— Tu sempre foste assim? — ele perguntou entre dentes, voz grossa de maré alta. — Louca, linda e perigosa?

— Sempre — respondeu ela, entre gemidos. — Se não for pra incendiar, não me chame.

O ritmo ficou frenético, estocadas curtas e depois longas, e a sacudida final veio como uma descarga — ambos gozaram no mesmo tempo: ela apertando os músculos, ele explodindo dentro dela. O som do gozo foi um tiro abafado, um alívio e um começo. A água do porão tremia, gotas quebravam no barril, e o cheiro de saliva e rum invadiu as tábuas.

Depois, afundados nos barris, corpos grudados, Sarah sorriu com satisfação vingadora: havia feito justiça contra Zyglos, recuperado a arma, e ainda levado para si o único prêmio que realmente queria naquela noite: o calor bruto de um homem que sabia lutar. Rook, ainda duro, beijou-a com ternura de pirata e a puxou contra a camisa, como se quisesse guardá-la entre as próprias velas.

— Amanhã tem saque — murmurou ela, ajeitando as pistolas no coldre. — Mas por agora… vamos dormir com rum até amanhã.

Rook riu. Puxou a bandana dela, acomodou no rosto dela como troféu e sussurrou:

— Miss Fortune, capitã do meu convés… quando a maré virar, que eu seja tua âncora.

Ela lhe deu um tapa suave, beijou o canto da boca dele e, num sussurro que era promessa e ordens, respondeu:

— E eu vou te enfiar minhas balas até cansar, Rook. Só não esquece de polir a punho amanhã.

Eles riram — duas criaturas sujas de pólvora e ternura — e deitaram entre barris e sacos de moedas, sabendo que o mar sempre cobrava o preço de suas ações. Mas para Sarah Fortune, com as pistolas da mãe no coldre e o gozo ainda quente, pouco importava: quanto maior o risco, maior a recompensa. E naquela noite, a recompensa vinha em duas mãos e um corpo quente sob as tábuas molhadas.


---- -----

A taverna estava carregada de fumaça de charuto e de rum barato. Homens cantavam, riam, batiam as canecas de madeira. Mas no canto, em uma mesa cercada de moedas e segredos, estava o alvo: Capitão Draven Crowe, um mercador que trocava espólios por sangue e carregava nos bolsos um pedaço do paraíso — o mapa da ilha esquecida de Serpentes, onde dizia-se que o ouro dos antigos dormia enterrado sob rochas encharcadas.

Sarah Fortune entrou como tempestade de velas abertas: botas batendo firme, decote generoso brilhando sob a luz da lamparina, sorriso de predadora. Todos os olhos viraram, mas ela só tinha um alvo.

— Capitão Crowe… — disse, encostando-se na mesa dele, a voz melosa como mel queimada em rum. — Me disseram que só um homem como você sabe a rota para o paraíso.

Ele riu, exibindo dentes manchados de vinho.
— E o que uma dama de Águas de Sentina teria a oferecer em troca?

Sarah abaixou-se, deixando o decote quase tocar o mapa enrolado na mesa.
— O que eu tenho não se guarda em baús.

Não demorou: em menos de uma hora, estavam na cabine dele, a porta trancada, o navio gemendo na maré. O capitão jogou o casaco no chão e a prensou contra a mesa de navegação, espalhando bússolas e cartas.

— Você é fogo, Sarah Fortune… — ele murmurou, arrancando a camisa dela.

— E você é só mais um navio que eu vou afundar — pensou ela, mas o que saiu de seus lábios foi um gemido quando a boca dele mordiscou seu pescoço.

Eles se engalfinharam como duas feras famintas. Ele a virou de costas e ergueu sua saia, metendo com brutalidade, cada estocada fazendo a mesa ranger, moedas caírem no chão. Sarah rebolava como quem dançava sobre pólvora, gemendo alto, incentivando-o, deixando-o acreditar que tinha domínio.

— Vai, capitão… — ela sussurrou, arqueando as costas. — Pilha esse navio até o fim.

Ele segurou firme em seus quadris, socando fundo, rindo, suado. Sarah parecia se perder no prazer — mas sua mente contava os segundos. Quando os gemidos dele começaram a perder força, quando o corpo já tremia de tanto gozar dentro dela, foi aí que ela agiu.

Deu um último rebolado, fingindo prazer, e com a mão livre puxou uma das pistolas do coldre, fria e letal. Encostou o cano na têmpora suada do capitão.

Ele congelou.
— O quê…?

Sarah se virou, ainda montada nele, e sorriu com o olhar mais cruel e sedutor que um pirata já viu.
— Nunca ouviu falar? Quanto maior o risco… maior a recompensa.

Puxou o gatilho. O estampido ecoou pela cabine, o corpo do capitão tombou sobre a mesa, espalhando sangue pelo mapa. Sarah levantou-se, limpou a boca com as costas da mão, e puxou o pergaminho para si.

Enrolou o mapa manchado, guardou no decote, e olhou para o cadáver ainda quente.
— Obrigada pela rota, amor. — Ela soprou a fumaça do cano e riu. — Pena que não vai viver pra chegar lá.

E saiu da cabine rebolando, como se nada tivesse acontecido, o mapa no peito e o sabor da vitória na boca.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Kurenai: A Deceptadora de Corações

Noite Proibida no Terraço

O Despertar com Denitrix — A Forja